domingo, 15 de janeiro de 2012

Desafios da educação contemporânea



Uma das maiores dificuldades para as práticas de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa é lidar com as novas tecnologias, muitos profissionais que estavam acostumados ao ensino tradicional sentem dificuldade com relação a elas, precisando de auxílio ou até mesmo uma capacitação para aprender a usá-las. A linguagem utilizada nos novos meios de comunicação, o internetês, também é vista por muitos professores como um grande problema, e muitos ficam sem saber como abordar esse assunto.
Além de saber usar as novas tecnologias no ensino, a educação contemporânea exige a realização de uma aprendizagem significativa e contextualizada, levando o aluno a compreender a complexidade e a funcionalidade da Língua Portuguesa em qualquer das variantes que ela possa se manifestar. Porém, um dos desafios é justamente inserir conhecimentos como: redação, leitura, compreensão de textos, tipos de textos, gramática, em situações reais de utilização da língua materna, e ainda fazer com que as aulas de Língua Portuguesa sejam divertidas e atrativas.

Percebe-se que os desafios da educação contemporânea são inúmeros, vários autores defendem um ensino contextualizado à vida dos alunos. Antigamente não havia muitas fontes de informação, por isso a escola mantinha seu monopólio mesmo ofertando um ensino descontextualizado.
Segundo Tenti Fanfani (2010),
Hoje, é impossível separar o mundo da vida do mundo da escola. Os adolescentes trazem consigo sua linguagem e sua cultura. A escola perdeu o monopólio de inculcar significações e estas, a seu tempo, tendem à diversificação e à fragmentação.

É  necessário levar em consideração que a escola de hoje tem desafios e necessidades diferentes  da escola de alguns anos atrás. O contexto é diferente, os alunos possuem acesso à informação de várias maneiras, e por isso o professor deixou de ser a única fonte de informação. Hoje, é necessário incluir as tecnologias da informação à realidade escolar, promover o letramento de forma que os alunos possam atuar nesse meio tecnológico, interpretá-lo, interagir com ele e aprender a selecionar informações.   No entanto, existem professores que apresentam resistência ao novo, mesmo trabalhando em uma escola que possui tecnologias a sua disposição e pessoas dispostas a ajudar, continuam aplicando aulas tradicionais e monótonas aos alunos que estão “antenados”  à modernidade, podendo surgir o desinteresse e confronto na relação professor-aluno.
Por isso é importante ter consciência de que o educador, assim como qualquer profissional, em um mundo globalizado precisa atualizar e aperfeiçoar, buscar adaptações e aprendizados constantemente. Com relação à linguagem utilizada na internet, discriminado por muitos professores, pode ser um excelente pretexto para se ganhar a atenção dos alunos, usando os exemplos do internetês para discutir a língua propriamente dita, mostrando a eles que existem situações em que deve ser usada a linguagem formal. 
Ao se trabalhar o internetês é preciso não se esquecer da linguagem formal, e que ela deve ser adequada ao contexto de comunicação. Quando os textos  produzidos na escola ganham um destino social, jornal mural ou blog, acaba surgindo uma preocupação em produzir uma linguagem que todos  possam entender. É importante que o aluno saiba que alguns colegas e até mesmo  funcionários da escola, podem não conhecer a linguagem do tipo internetês, e  por isso a linguagem formal, considerada padrão, é a que garante uma  comunicação perfeita nesse contexto.
Utilizando conjuntos materiais e culturais, que estejam incorporados à realidade social do aluno e professor, é possível tornar o ensino contextualizado e as aulas mais atrativas. Para isso é necessário observar o universo dos alunos, tentando descobrir seus gostos, seus interesses, seus sonhos, e depois, a partir desses dados, criar novas estratégias de ensino. Usar as músicas de que eles gostam como objeto de estudo das aulas, algo que faz parte da realidade dele, pode ser um das maneiras de criar aulas agradáveis. Além disso, o professor precisa ser um leitor, somente tendo conhecimento dos mais variados gêneros discursivos, ele terá condições de tornar suas aulas “envolventes”, nesse contexto, as tecnologias podem ser uma ótima ferramenta de auxílio ao professor, desde que o conteúdo seja significativo, fazendo parte do universo do aluno.

Referência Bibliográfica:
TENTI FANFANI, Emilio. Culturas jovens e cultura escolar. Disponível em: <http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/diretorio/apoio_420_53//Fanfani_culturas%20jovens.pdf?1323634382>. Acesso em: 11 dez. 2011




A Escrava Isaura (Bernardo Joaquim da Silva Guimarães)
               A obra aqui apresentada pertence ao gênero narrativo. A narração é um gênero textual que narra os acontecimentos reais ou fictícios. Praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilísticos em comum e devem responder questionamentos (quem? que? quando? onde? por quê?).
Os principais elementos da narração são: narrador (é o que narra a história, pode ser onisciente ou personagem), tempo (é um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experiências e ações), espaço (lugar onde as ações acontecem e se desenvolvem), enredo (é a trama, o que está envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resolução, ou seja, todo enredo tem início, desenvolvimento, clímax e desfecho), personagens (através das personagens, seres fictícios da trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e ações).
O livro (canônico) escolhido para análise foi A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, que é um romance em prosa que pode ser lido com diversos fins: para apreciar uma história romântica entre o casal protagonista, Isaura e Álvaro, se divertir com trechos engraçados e também para fazer um estudo sobre as raízes do racismo no Brasil. Apresenta personagens como o Leôncio que é o vilão insensível, um homem cruel e inescrupuloso, que casa-se com Malvina, linda, ingênua e rica. Miguel, pai de Isaura, é um exemplo do amor, pai extremoso, deseja libertar a filha da escravidão e não mede esforços para isso.   O mais encantador da história é quando surge Álvaro um rico herdeiro, cavalheiro nobre e de caráter impecável, um jovem de idéias igualitárias, idealista e corajoso para lutar contra os valores da sociedade a que pertence.
O autor localiza a narrativa em uma temporalidade histórica muito agradável de se ler; ele foi publicado na década de setenta do século XIX, durante o império do Sr. D. Pedro II. O leitor é enviado para o espaço do município de Campos de Goitacazes. Este município foi um dos centros da economia escravagista do sudeste.  Conduzindo o leitor pelo olhar, o narrador descreve a fazenda situada à margem do rio Paraíba, a pouca distância da vila de campos. O olhar do narrador põe a arquitetura da fazenda, tendo como centro do palco a casa-grande e as senzalas.
         Ler uma narrativa pode ser muito agradável por poder despertar vários sentimentos, como alegria, tristeza, indignação e tantos outros. A obra A Escrava Isaura, tão apreciada, traz consigo uma forte crítica social, a escravidão. Ler esse livro é como vivenciar o sofrimento dos escravos, pois ela retrata a triste e injusta realidade na qual viveu os afros descendentes aqui no Brasil. Enfim, é uma narrativa absolutamente rica, pois quando analisada, propicia a construção da crítica e a reflexão sobre o aspecto temático do problema, a falta de liberdade.
O livro foi escrito em plena campanha abolicionista (1875), trata de uma das questões mais polêmicas da sociedade brasileira da época: a escravidão, contando a história de uma escrava que nasceu branca, e por isso foi acolhida como filha pela senhora da casa, após a morte de sua mãe. Sua sinhá lhe deu uma excelente educação, por isso falava bem o português, além de saber tocar piano e falar línguas estrangeiras. Ela seria liberta, mas a sinhá acabou falecendo antes, e a escrava caiu nas mãos de seu filho, o Leôncio.
Mesmo sendo casado com Malvina, Leôncio alimentava grande paixão e desejo por Isaura, e sempre que a escrava estava sozinha, ia assediá-la, mas esta resiste e conserva a sua dignidade e pureza. Com a ajuda de seu pai, ela consegue fugir da fazenda, e nessa fuga conhece e apaixona-se por um rapaz abolicionista, rico e bonito, que fará de tudo para libertá-la. Assim que Álvaro descobre a falência de Leôncio, adquire seus bens e desmascara o vilão. Liberta Isaura e casa-se com ela, desafiando, assim, os preconceitos da sociedade escravocrata.
Essa ficção atraente se desenvolve de uma maneira agradável e cativante, não deixa de apresentar uma das características mais marcantes do escritor: a linguagem simples, de contador de casos, em que se revela o cotidiano das províncias brasileiras do século XIX. O romance foi um grande sucesso editorial e permitiu que Bernardo Guimarães se tornasse um dos mais populares romancistas de sua época no Brasil.
 Um dos trechos que chama atenção e, para alguns, pode até ser engraçado, é quando Isaura se penitencia por ser bonita e tão bem educada, dizendo: “Meu Deus! Meu Deus!... já que tive a desgraça de nascer cativa, não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme, como a mais vil das negras, do que ter recebido dos céus estes dotes, que só servem para amargurar-me a existência?” (GUIMARÃES, 1998, p)
Vale a pena ler, pois o livro apresenta uma narrativa rica em detalhes que retratam a intensidade dos costumes e da vida social, mostrando de uma maneira clara o sofrimento dos escravos, além disso descreve de maneira impressionante a paisagem brasileira. A história é carregada de emoções e sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, a figura da mulher é idealizada e o amor acontece à primeira vista.
O autor procura sensibilizar seus leitores sobre o problema da escravidão, transferindo o leitor para a pele de uma escrava. Focalizou o problema de uma maneira muito sentimental, atingindo principalmente o público feminino, que encontrava na literatura caminho de fuga, numa sociedade em que a mulher passava maior parte do tempo dentro de sua casa. Seu público deveria se identificar com a vida da cativa Isaura, perceber seu sofrimento e questionar sobre a injustiça da escravidão.
A obra A Escrava Isaura foi criada no século XIX e ainda em pleno século XXI, sensibiliza o público. A obra foi tão bem aceita pelo público que há mais de um século vem sendo reeditada e adaptada em versões para o cinema e televisão. 



Referência Bibliográfica:                                       
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo: Martin Claret, 1998.
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…”
Clarice Lispector