A Escrava Isaura (Bernardo Joaquim da Silva Guimarães)
A obra aqui apresentada pertence ao gênero narrativo.
A narração é um gênero textual que narra os acontecimentos reais ou fictícios.
Praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e
estilísticos em comum e devem responder questionamentos (quem? que? quando?
onde? por quê?).
Os principais elementos da
narração são: narrador (é o que narra a história, pode ser onisciente ou
personagem), tempo (é um determinado momento em que as personagens vivenciam as
suas experiências e ações), espaço (lugar onde as ações acontecem e se
desenvolvem), enredo (é a trama, o que está envolvido na trama que precisa ser
resolvido, e a sua resolução, ou seja, todo enredo tem início, desenvolvimento,
clímax e desfecho), personagens (através das personagens, seres fictícios da
trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e ações).
O livro (canônico) escolhido para análise foi A Escrava Isaura,
de Bernardo Guimarães, que é um romance em prosa que pode ser lido com diversos
fins: para apreciar uma história romântica entre o casal protagonista, Isaura e
Álvaro, se divertir com trechos engraçados e também para fazer um estudo sobre
as raízes do racismo no Brasil. Apresenta personagens
como o Leôncio que é o vilão insensível, um homem cruel e inescrupuloso, que
casa-se com Malvina, linda, ingênua e rica. Miguel, pai de Isaura, é um exemplo
do amor, pai extremoso, deseja libertar a filha da escravidão e não mede
esforços para isso. O mais encantador da história é quando surge
Álvaro um rico herdeiro, cavalheiro nobre e de caráter impecável, um jovem de
idéias igualitárias, idealista e corajoso para lutar contra os valores da
sociedade a que pertence.
O autor localiza a narrativa em uma temporalidade histórica
muito agradável de se ler; ele foi publicado na década de setenta do século
XIX, durante o império do Sr. D. Pedro II. O leitor é enviado para o
espaço do município de Campos de Goitacazes. Este município foi um dos centros
da economia escravagista do sudeste. Conduzindo o leitor pelo
olhar, o narrador descreve a fazenda situada à margem do rio Paraíba, a pouca
distância da vila de campos. O olhar do narrador põe a arquitetura da fazenda,
tendo como centro do palco a casa-grande e as senzalas.
Ler uma narrativa pode ser muito agradável
por poder despertar vários sentimentos, como alegria, tristeza, indignação e tantos outros. A obra A Escrava Isaura, tão apreciada, traz
consigo uma forte crítica social, a escravidão. Ler esse livro é como vivenciar
o sofrimento dos escravos, pois ela retrata a triste e injusta realidade na
qual viveu os afros descendentes aqui no Brasil. Enfim, é uma narrativa
absolutamente rica, pois quando analisada, propicia a construção da crítica e a
reflexão sobre o aspecto temático do problema, a falta de liberdade.
O livro foi escrito em
plena campanha abolicionista (1875), trata de uma das questões mais polêmicas
da sociedade brasileira da época: a escravidão, contando a história de uma
escrava que nasceu branca, e por isso foi acolhida como filha pela senhora da
casa, após a morte de sua mãe. Sua sinhá lhe deu uma excelente educação, por
isso falava bem o português, além de saber tocar piano e falar línguas estrangeiras.
Ela seria liberta, mas a sinhá acabou falecendo antes, e a escrava caiu nas
mãos de seu filho, o Leôncio.
Mesmo sendo casado com
Malvina, Leôncio alimentava grande paixão e desejo por Isaura, e sempre que a
escrava estava sozinha, ia assediá-la, mas esta resiste e conserva a sua
dignidade e pureza. Com a ajuda de seu pai, ela consegue fugir da fazenda, e
nessa fuga conhece e apaixona-se por um rapaz abolicionista, rico e bonito, que
fará de tudo para libertá-la. Assim que Álvaro
descobre a falência de Leôncio, adquire seus bens e desmascara o vilão. Liberta
Isaura e casa-se com ela, desafiando, assim, os preconceitos da sociedade
escravocrata.
Essa ficção atraente se
desenvolve de uma maneira agradável e cativante, não deixa de apresentar uma das características mais
marcantes do escritor: a linguagem simples, de contador de casos, em que se
revela o cotidiano das províncias brasileiras do século XIX. O romance foi um grande sucesso
editorial e permitiu que Bernardo Guimarães se tornasse um dos mais populares
romancistas de sua época no Brasil.
Um dos trechos que chama atenção e, para
alguns, pode até ser engraçado, é quando Isaura se penitencia por ser bonita e
tão bem educada, dizendo: “Meu Deus! Meu Deus!... já que tive a desgraça de
nascer cativa, não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme, como a mais
vil das negras, do que ter recebido dos céus estes dotes, que só servem para
amargurar-me a existência?” (GUIMARÃES,
1998, p)
Vale a pena ler, pois o
livro apresenta uma narrativa rica em detalhes que retratam a intensidade dos
costumes e da vida social, mostrando de uma maneira clara o sofrimento dos
escravos, além disso descreve de maneira impressionante a paisagem brasileira. A história é
carregada de emoções e sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, a figura
da mulher é idealizada e o amor acontece à primeira vista.
O autor procura
sensibilizar seus leitores sobre o problema da escravidão, transferindo o
leitor para a pele de uma escrava. Focalizou o problema de uma maneira muito
sentimental, atingindo principalmente o público feminino, que encontrava na
literatura caminho de fuga, numa sociedade em que a mulher passava maior parte
do tempo dentro de sua casa. Seu público deveria se identificar com a vida da
cativa Isaura, perceber seu sofrimento e questionar sobre a injustiça da
escravidão.
A obra A Escrava Isaura
foi criada no século XIX e ainda em pleno século XXI, sensibiliza o público. A
obra foi tão bem aceita pelo público que há mais de um século vem sendo
reeditada e adaptada em versões para o cinema e televisão.
Referência Bibliográfica:
GUIMARÃES,
Bernardo. A escrava Isaura. São
Paulo: Martin Claret, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário