domingo, 15 de janeiro de 2012



A Escrava Isaura (Bernardo Joaquim da Silva Guimarães)
               A obra aqui apresentada pertence ao gênero narrativo. A narração é um gênero textual que narra os acontecimentos reais ou fictícios. Praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilísticos em comum e devem responder questionamentos (quem? que? quando? onde? por quê?).
Os principais elementos da narração são: narrador (é o que narra a história, pode ser onisciente ou personagem), tempo (é um determinado momento em que as personagens vivenciam as suas experiências e ações), espaço (lugar onde as ações acontecem e se desenvolvem), enredo (é a trama, o que está envolvido na trama que precisa ser resolvido, e a sua resolução, ou seja, todo enredo tem início, desenvolvimento, clímax e desfecho), personagens (através das personagens, seres fictícios da trama, encadeiam-se os fatos que geram os conflitos e ações).
O livro (canônico) escolhido para análise foi A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, que é um romance em prosa que pode ser lido com diversos fins: para apreciar uma história romântica entre o casal protagonista, Isaura e Álvaro, se divertir com trechos engraçados e também para fazer um estudo sobre as raízes do racismo no Brasil. Apresenta personagens como o Leôncio que é o vilão insensível, um homem cruel e inescrupuloso, que casa-se com Malvina, linda, ingênua e rica. Miguel, pai de Isaura, é um exemplo do amor, pai extremoso, deseja libertar a filha da escravidão e não mede esforços para isso.   O mais encantador da história é quando surge Álvaro um rico herdeiro, cavalheiro nobre e de caráter impecável, um jovem de idéias igualitárias, idealista e corajoso para lutar contra os valores da sociedade a que pertence.
O autor localiza a narrativa em uma temporalidade histórica muito agradável de se ler; ele foi publicado na década de setenta do século XIX, durante o império do Sr. D. Pedro II. O leitor é enviado para o espaço do município de Campos de Goitacazes. Este município foi um dos centros da economia escravagista do sudeste.  Conduzindo o leitor pelo olhar, o narrador descreve a fazenda situada à margem do rio Paraíba, a pouca distância da vila de campos. O olhar do narrador põe a arquitetura da fazenda, tendo como centro do palco a casa-grande e as senzalas.
         Ler uma narrativa pode ser muito agradável por poder despertar vários sentimentos, como alegria, tristeza, indignação e tantos outros. A obra A Escrava Isaura, tão apreciada, traz consigo uma forte crítica social, a escravidão. Ler esse livro é como vivenciar o sofrimento dos escravos, pois ela retrata a triste e injusta realidade na qual viveu os afros descendentes aqui no Brasil. Enfim, é uma narrativa absolutamente rica, pois quando analisada, propicia a construção da crítica e a reflexão sobre o aspecto temático do problema, a falta de liberdade.
O livro foi escrito em plena campanha abolicionista (1875), trata de uma das questões mais polêmicas da sociedade brasileira da época: a escravidão, contando a história de uma escrava que nasceu branca, e por isso foi acolhida como filha pela senhora da casa, após a morte de sua mãe. Sua sinhá lhe deu uma excelente educação, por isso falava bem o português, além de saber tocar piano e falar línguas estrangeiras. Ela seria liberta, mas a sinhá acabou falecendo antes, e a escrava caiu nas mãos de seu filho, o Leôncio.
Mesmo sendo casado com Malvina, Leôncio alimentava grande paixão e desejo por Isaura, e sempre que a escrava estava sozinha, ia assediá-la, mas esta resiste e conserva a sua dignidade e pureza. Com a ajuda de seu pai, ela consegue fugir da fazenda, e nessa fuga conhece e apaixona-se por um rapaz abolicionista, rico e bonito, que fará de tudo para libertá-la. Assim que Álvaro descobre a falência de Leôncio, adquire seus bens e desmascara o vilão. Liberta Isaura e casa-se com ela, desafiando, assim, os preconceitos da sociedade escravocrata.
Essa ficção atraente se desenvolve de uma maneira agradável e cativante, não deixa de apresentar uma das características mais marcantes do escritor: a linguagem simples, de contador de casos, em que se revela o cotidiano das províncias brasileiras do século XIX. O romance foi um grande sucesso editorial e permitiu que Bernardo Guimarães se tornasse um dos mais populares romancistas de sua época no Brasil.
 Um dos trechos que chama atenção e, para alguns, pode até ser engraçado, é quando Isaura se penitencia por ser bonita e tão bem educada, dizendo: “Meu Deus! Meu Deus!... já que tive a desgraça de nascer cativa, não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme, como a mais vil das negras, do que ter recebido dos céus estes dotes, que só servem para amargurar-me a existência?” (GUIMARÃES, 1998, p)
Vale a pena ler, pois o livro apresenta uma narrativa rica em detalhes que retratam a intensidade dos costumes e da vida social, mostrando de uma maneira clara o sofrimento dos escravos, além disso descreve de maneira impressionante a paisagem brasileira. A história é carregada de emoções e sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, a figura da mulher é idealizada e o amor acontece à primeira vista.
O autor procura sensibilizar seus leitores sobre o problema da escravidão, transferindo o leitor para a pele de uma escrava. Focalizou o problema de uma maneira muito sentimental, atingindo principalmente o público feminino, que encontrava na literatura caminho de fuga, numa sociedade em que a mulher passava maior parte do tempo dentro de sua casa. Seu público deveria se identificar com a vida da cativa Isaura, perceber seu sofrimento e questionar sobre a injustiça da escravidão.
A obra A Escrava Isaura foi criada no século XIX e ainda em pleno século XXI, sensibiliza o público. A obra foi tão bem aceita pelo público que há mais de um século vem sendo reeditada e adaptada em versões para o cinema e televisão. 



Referência Bibliográfica:                                       
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo: Martin Claret, 1998.

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