domingo, 2 de junho de 2013

Uso real e idealizado da língua

A maior parte dos professores já percebeu que não é com frases ou orações que devem ser utilizada para o estudo e ensino da língua, mas sim com textos, pois segundo Neves (2003, p. 80), “a gramática acionada naturalmente pelo falante de uma língua para organizar sua linguagem não se limita à estrutura de uma oração ou de um período”.
Deve haver algumas bases para o ensino da gramática nas aulas de Língua Portuguesa como a seleção de textos, explicitação de conteúdos e até avaliações, sempre voltados para o uso real da língua.
A partir do texto que se devem surgir os temas e os exercícios que serão trabalhados, pois devem ser feitos com base na produção linguística realizada, e assim estudar o uso real da língua.
Nesse efetivo trabalho com os textos, devem ser levadas em conta as variações linguísticas, refletindo sobre a língua padrão e as formas não-padrão. Como resultado de uma reflexão bem conduzida, os alunos perceberão a realidade de sua língua, e vão deixar de pensar que a língua ensinada na escola não é sua, ou que as pessoas de sua comunidade falam errado.
Para refletir sobre a língua, o professor deve partir do uso real da língua para o uso padrão, como defende Neves (2003, p. 22), “se queremos estudar a língua padrão, temos que ir da língua para o padrão”.
Um dos objetivos do ensino da língua portuguesa na escola deve ser a discussão critica dos valores sociais que são atribuídos a cada variante lingüística, deixando em destaque a considerável discriminação existente sobre determinados usos da língua, de forma que leve à conscientização dos alunos de que a sua produção lingüística, seja a oral ou a escrita, sempre estará sempre sujeita a uma avaliação social.
O professor deve apresentar atividades que levem a discussões, reflexões, investigações, análises sobre os fenômenos lingüísticos, pois assim eles estarão estudando a língua que falam e escrevem, e não uma língua idealizada que só existe nos manuais. Isso fará com que deixem de ser alunos passivos, e passem a ser alunos ativos, sujeitos agentes da própria aprendizagem.
Ao se encontrar a forma não-padrão na produção oral e escrita de nossos alunos, por exemplo, pode ser oferecida a eles a opção de “transformar ” seus enunciados na forma prestigiosa da língua, levando-os a tomarem consciência da existência das normas gramaticais. Não se pode negar a eles o conhecimento de todas as opções possíveis e cabe a ele, usuário da língua e conhecedor das opções de seu idioma, fazer suas escolhas para essa “transformação” do enunciado.
Para a realização dessa tarefa, o professor precisa conhecer a ciência lingüística,  oferecendo assim, uma análise mais criteriosa dos fenômenos de variação e mudança lingüística. Ele precisa saber reconhecer os fenômenos lingüísticos que ocorrem em sala de aula, reconhecer o perfil sociolingüístico de seus alunos para, junto com eles, empreender uma educação em língua materna que leve em conta o grande saber lingüístico prévio dos aprendizes e que possibilite a ampliação incessante do seu repertório verbal e de sua competência comunicativa, na construção de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democráticas e não-discriminadoras.
Para essa prática reflexiva da língua, o professor precisa reconhecer que a gramática não possui normas rígidas de aplicação, pois a língua é viva e variável. Por isso não faz sentido que a gramática se reduza ao ensino através das atividades de memorização, de apresentação e imitação de moldes e modelos.
Os professores de língua portuguesa devem repensar sua prática docente, principalmente com relação ao ensino de gramática. Deve procurar usar textos que sirvam de reflexão sobre a língua em funcionamento, e não apenas sobre “uma estrutura fixa e acabada”, observando os esquemas linguísticos dos interlocutores e seus papéis sociais durante a interlocução, que revelam intenções comunicativas.
 Segundo Mendonça (2006, p.201-202) , “muitos professores não encontram outra razão para ensinar o que ensinam nas aulas de gramática, a não ser a força da tradição, revelando uma prática docente alienada de seus propósitos mais básicos”. Mas cabe aos professores mudarem essa prática, através da compreensão e da aceitação de que o estudo da gramática só faz sentido quando está sendo feito com base em textos situados em práticas sócio-históricas de uso da língua.






Referência Bibliográfica:
NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? Norma e uso na língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2003.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso. Disponível em <file:///D:/disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20setembro/Nada%20na%20l%C3%ADngua%20%C3%A9%20por%20acaso%20%C2%AB%20Marcos%20Bagno.htm>. Acesso em 8 set 2012.

Um comentário:

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