A
maior parte dos professores já percebeu que não é com frases ou orações que
devem ser utilizada para o estudo e ensino da língua, mas sim com textos, pois
segundo Neves (2003, p. 80), “a gramática acionada naturalmente pelo falante de
uma língua para organizar sua linguagem não se limita à estrutura de uma oração
ou de um período”.
Deve
haver algumas bases para o ensino da gramática nas aulas de Língua Portuguesa
como a seleção de textos, explicitação de conteúdos e até avaliações, sempre
voltados para o uso real da língua.
A
partir do texto que se devem surgir os temas e os exercícios que serão
trabalhados, pois devem ser feitos com base na produção linguística realizada,
e assim estudar o uso real da língua.
Nesse
efetivo trabalho com os textos, devem ser levadas em conta as variações
linguísticas, refletindo sobre a língua padrão e as formas não-padrão. Como
resultado de uma reflexão bem conduzida, os alunos perceberão a realidade de
sua língua, e vão deixar de pensar que a língua ensinada na escola não é sua,
ou que as pessoas de sua comunidade falam errado.
Para
refletir sobre a língua, o professor deve partir do uso real da língua para o
uso padrão, como defende Neves (2003, p. 22), “se queremos estudar a língua
padrão, temos que ir da língua para o padrão”.
Um dos objetivos do ensino da língua portuguesa na escola
deve ser a discussão critica dos valores sociais que são atribuídos a cada
variante lingüística, deixando em destaque a considerável discriminação existente
sobre determinados usos da língua, de forma que leve à conscientização dos
alunos de que a sua produção lingüística, seja a oral ou a escrita, sempre estará
sempre sujeita a uma avaliação social.
O
professor deve apresentar atividades que levem a discussões, reflexões,
investigações, análises sobre os fenômenos lingüísticos, pois assim eles
estarão estudando a língua que falam e escrevem, e não uma língua idealizada
que só existe nos manuais. Isso fará com que deixem de ser alunos passivos, e passem a ser alunos
ativos, sujeitos agentes da própria aprendizagem.
Ao se encontrar a forma não-padrão na produção oral e
escrita de nossos alunos, por exemplo, pode ser oferecida a eles a opção de “transformar ” seus enunciados na forma prestigiosa da língua, levando-os
a tomarem consciência da existência das normas gramaticais. Não se pode negar a
eles o conhecimento de todas as opções possíveis e cabe a ele, usuário da
língua e conhecedor das opções de seu idioma, fazer suas escolhas para essa
“transformação” do enunciado.
Para a realização dessa tarefa, o professor precisa conhecer
a ciência lingüística, oferecendo assim,
uma análise mais criteriosa dos fenômenos de variação e mudança lingüística.
Ele precisa saber reconhecer os fenômenos lingüísticos que ocorrem em sala de
aula, reconhecer o perfil sociolingüístico de seus alunos para, junto com eles,
empreender uma educação em língua materna que leve em conta o grande saber
lingüístico prévio dos aprendizes e que possibilite a ampliação incessante do
seu repertório verbal e de sua competência comunicativa, na construção de
relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democráticas e
não-discriminadoras.
Para
essa prática reflexiva da língua, o professor precisa reconhecer que a
gramática não possui normas rígidas de aplicação, pois a língua é viva e variável.
Por isso não faz sentido que a gramática se reduza ao ensino através das
atividades de memorização, de apresentação e imitação de moldes e modelos.
Os
professores de língua portuguesa devem repensar sua prática docente, principalmente
com relação ao ensino de gramática. Deve procurar usar textos que sirvam de
reflexão sobre a língua em funcionamento, e não apenas sobre “uma estrutura
fixa e acabada”, observando os esquemas linguísticos dos interlocutores e seus
papéis sociais durante a interlocução, que revelam intenções comunicativas.
Segundo Mendonça (2006, p.201-202) ,
“muitos professores não encontram outra razão para ensinar o que ensinam nas
aulas de gramática, a não ser a força da tradição, revelando uma prática
docente alienada de seus propósitos mais básicos”. Mas cabe aos professores
mudarem essa prática, através da compreensão e da aceitação de que o estudo da
gramática só faz sentido quando está sendo feito com base em textos situados em
práticas sócio-históricas de uso da língua.
Referência
Bibliográfica:
NEVES,
Maria Helena de Moura. Que gramática
estudar na escola? Norma e uso na língua portuguesa. São Paulo: Contexto,
2003.
BAGNO,
Marcos. Nada na língua é por acaso.
Disponível em <file:///D:/disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20setembro/Nada%20na%20l%C3%ADngua%20%C3%A9%20por%20acaso%20%C2%AB%20Marcos%20Bagno.htm>.
Acesso em 8 set 2012.
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