domingo, 2 de junho de 2013

A utilidade do conceito de gramática internalizada na escola

A partir de seis ou sete anos, qualquer a criança é capaz de entender e produzir qualquer tipo de enunciado, pois já domina intuitivamente o sistema de regras da sua língua. Aprender a falar ou a dominar o código verbal são capacidades que são adquiridas naturalmente, no processo de aquisição da linguagem. A Gramática internalizada é um conjunto de regras que o falante domina, é uma capacidade linguística inata, mesmo na infância, já se têm conhecimento da língua, pois faz uso dela para pensar, comunicar, relacionar-se com o mundo, já sabe antes de ir para a escola, trata-se de um conhecimento adquirido na comunidade em que se vive e que não depende da própria escolha:  
 “Não foi por escolha nossa que adquirimos o idioma que falamos: ele simplesmente se desenvolveu [brotou e cresceu] em nossa mente em virtude de nossa constituição interior e do meio ambiente em que vivemos. [...] para cada um de nós, a língua se desenvolve em consequência de nossa constituição atual, quando somos colocados no meio ambiente apropriado.” (Chomsky 1981:18-9).
Todo falante do português possui sua gramática internalizada que rejeita estruturas agramaticais (ex: ao cinema foi João ontem), e essa capacidade não foi na escola que ele adquiriu, mas foi adquirida naturalmente. Como as pessoas conhecem intuitivamente o sistema de regras da língua que falam, cabe, portanto, à escola aprimorar essa linguagem, como  forma de abrir possibilidades de conhecimentos aos alunos. O papel do professor de Língua  Portuguesa é valorizar a leitura, a redação tornando-as práticas constantes, proporcionando a eles a descoberta e reflexão de sua gramática internalizada, assim poderão organizar e analisar as regras da língua. É preciso refletir a gramática, pois segundo Luft (1995:53):
[As aulas de linguagem não devem ser] “treinamento forçado, carregamento de fora para dentro, mas criação de condições e estímulo para que se liberem capacidades internas inatas. O falante, exposto a modelos de um ou de outro nível, um ou outro dialeto, um ou outro conjunto de variantes, exercita-se e cresce linguisticamente, ao natural, sem necessidade alguma de enunciar ou decorar regras que apenas o confundem e tornam esse processo ineficaz, frustrante.” (Luft 1995:53) 
O professor de português precisa estimular esse conhecimento, provocando a exteriorização da gramática internalizada. Uma das maneiras de possibilitar essa exteriorização é a comparação entre as variedades linguísticas, para perceber outras estruturas linguísticas e aceitá-las como possíveis. Para envolver os alunos na reflexão da língua, é necessário que eles deixem de ser sujeitos passivos e tenham uma participação ativa no processo de ensino-aprendizagem, através de criação de projetos de pesquisa em sala de aula a fim de que possam descrever a gramática que já dominam.
Para desenvolver a competência comunicativa dos falantes da língua, é necessário trabalhar a pluralidade dos discursos, ou seja, a variação linguística. A postura do professor deve ser descritiva e não normativa e as regras gramaticais internalizadas pelos falantes devem ser colocadas em uso no funcionamento da língua. A língua padrão não deve ser reconhecida como a correta, mas como adequada a determinadas situações, da mesma forma a língua popular é perfeitamente adequada a algumas situações e inadequadas a outras. Essas reflexões são necessárias para que os alunos analisem a forma gramatical e adéquem à situação de comunicação.
Ainda sobre a gramática da língua interiorizada, segundo Kato, o estudo da teoria gramatical tem:
“finalidade de levar o aprendiz a pensar, a raciocinar, a descobrir conceitos novos significativos e psicologicamente motivados, isto é, conceitos que passem realmente a integrar os esquemas prévios do aluno e o auxiliem a entender cada vez melhor o sistema subjacente à sua língua” (Kato 1988:13-14).
Portanto, os exercícios de análise sintática, com frases soltas, desligadas de contextos pouco contribuem para que o aluno compreenda o real papel daqueles termos no funcionamento da língua. A Gramática Normativa deve dar lugar a uma forma diferente de tratar o texto e a língua. As aulas de língua materna devem dar prioridade à produção textual, leitura e interpretação de uma vasta variedade de gêneros textuais. Atividades que levem à reflexão são mais eficientes e satisfatórias do que decorar regras, que ditam "erros" e "acertos". Assim, a escola formará alunos capacitados como leitores, e que poderão produzir qualquer tipo de texto.
Referência Bibliográfica:
CHOMSKY, N. (1981) Lectures on government and binding[BN1] . Dordrecht: Foris.  O ano de publicação deve vir no final da referência
LUFT, C. (1995) Língua e Liberdade. São Paulo : Ática. O ano da publicação deve vir no final da referência.
KATO, M. A. A conceitualização gramatical na história, na aquisição e na escola. Trabalhos em linguística aplicada, Campinas, n.12, 13-22, jul./dez.1988.


 [BN1]Faltou acrescentar quem foi o tradutor da citação, pois você citou o texto em português.

5 comentários: