A partir de seis ou sete anos, qualquer a criança é capaz de entender e
produzir qualquer tipo de enunciado, pois já domina intuitivamente o sistema de
regras da sua língua. Aprender a falar ou a dominar o código verbal são
capacidades que são adquiridas naturalmente, no processo de aquisição da
linguagem. A Gramática internalizada é um conjunto de
regras que o falante domina, é uma capacidade linguística inata, mesmo na
infância, já se têm conhecimento da língua, pois faz uso dela para pensar,
comunicar, relacionar-se com o mundo, já sabe antes de ir para a escola,
trata-se de um conhecimento adquirido na comunidade em que se vive e que não
depende da própria escolha:
“Não foi por escolha nossa que
adquirimos o idioma que falamos: ele simplesmente se desenvolveu [brotou e
cresceu] em nossa mente em virtude de nossa constituição interior e do meio
ambiente em que vivemos. [...] para cada um de nós, a língua se desenvolve em
consequência de nossa constituição atual, quando somos colocados no meio
ambiente apropriado.” (Chomsky 1981:18-9).
Todo
falante do português possui sua gramática internalizada que rejeita estruturas
agramaticais (ex: ao cinema foi João ontem), e essa capacidade não foi na escola
que ele adquiriu, mas foi adquirida naturalmente. Como as pessoas conhecem intuitivamente o sistema de regras da língua
que falam, cabe, portanto, à escola aprimorar essa linguagem, como forma de abrir possibilidades de conhecimentos aos
alunos. O papel do professor de
Língua Portuguesa é valorizar
a leitura, a redação tornando-as práticas constantes, proporcionando a eles a descoberta e reflexão de sua gramática
internalizada, assim poderão organizar e analisar as regras da língua. É
preciso refletir a gramática, pois segundo Luft (1995:53):
[As aulas de linguagem não devem ser] “treinamento forçado, carregamento
de fora para dentro, mas criação de condições e estímulo para que se liberem
capacidades internas inatas. O falante, exposto a modelos de um ou de outro
nível, um ou outro dialeto, um ou outro conjunto de variantes, exercita-se e
cresce linguisticamente, ao natural, sem necessidade alguma de enunciar ou
decorar regras que apenas o confundem e tornam esse processo ineficaz,
frustrante.” (Luft 1995:53)
O
professor de português precisa estimular esse conhecimento, provocando a
exteriorização da gramática internalizada. Uma das maneiras de possibilitar
essa exteriorização é a comparação entre as variedades linguísticas, para
perceber outras estruturas linguísticas e aceitá-las como possíveis. Para
envolver os alunos na reflexão da língua, é necessário que eles deixem de ser
sujeitos passivos e tenham uma participação ativa no processo de
ensino-aprendizagem, através de criação de projetos de pesquisa em sala de aula
a fim de que possam descrever a gramática que já dominam.
Para desenvolver a competência comunicativa dos
falantes da língua, é necessário trabalhar a pluralidade dos discursos, ou
seja, a variação linguística. A postura
do professor deve ser descritiva e não normativa e as regras gramaticais
internalizadas pelos falantes devem ser colocadas em uso no funcionamento da
língua. A língua padrão não deve ser reconhecida como a correta, mas como
adequada a determinadas situações, da mesma forma a língua popular é perfeitamente adequada a algumas
situações e inadequadas a outras. Essas reflexões são necessárias para que os
alunos analisem a forma gramatical e adéquem à situação de comunicação.
Ainda
sobre a gramática da língua interiorizada, segundo Kato, o estudo da teoria gramatical
tem:
“finalidade
de levar o aprendiz a pensar, a raciocinar, a descobrir conceitos novos
significativos e psicologicamente motivados, isto é, conceitos que passem
realmente a integrar os esquemas prévios do aluno e o auxiliem a entender cada
vez melhor o sistema subjacente à sua língua” (Kato 1988:13-14).
Portanto, os exercícios de análise sintática, com frases soltas,
desligadas de contextos pouco contribuem para que o aluno compreenda o real
papel daqueles termos no funcionamento da língua. A Gramática Normativa deve
dar lugar a uma forma diferente de tratar o texto e a língua. As
aulas de língua materna devem dar prioridade à produção textual, leitura e
interpretação de uma vasta variedade de gêneros textuais. Atividades que levem à reflexão são mais eficientes e
satisfatórias do que decorar regras, que ditam "erros" e
"acertos". Assim, a escola formará alunos capacitados como leitores,
e que poderão produzir qualquer tipo de texto.
Referência Bibliográfica:
CHOMSKY, N. (1981) Lectures
on government and binding[BN1] . Dordrecht: Foris. O ano de publicação deve vir no final da
referência
LUFT,
C. (1995) Língua e Liberdade. São
Paulo : Ática. O ano da publicação deve vir no final da referência.
KATO,
M. A. A conceitualização gramatical na
história, na aquisição e na escola. Trabalhos em linguística aplicada,
Campinas, n.12, 13-22, jul./dez.1988.
Muito elucidativo seu texto!Ajudou-me muito.
ResponderExcluirAdorei!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito proveitoso esse texto sobre gramatica internalizads
ResponderExcluirótimo texto, ótimas referências! Obrigado.
ResponderExcluir