terça-feira, 30 de abril de 2013

Como e porque o ensino de Língua Portuguesa no Brasil passa de beletrista a procedimental


Não somente a Língua Portuguesa, mas também o seu ensino está em constante evolução. A linguagem sempre teve uma ligação direta com a arte, sendo considerada uma arte (beletrista ou belas letras) a ser ensinada. No entanto, percebe-se que o ensino das letras mudou de rumo, sendo seu ensino centrado em padrões e procedimentos, consequentemente, configurou-se um currículo procedimental, baseado na Psicologia Cognitiva e na Linguistica Textual, ao invés de um currículo comunicativo ou pragmático, como proposto na década de 70.   
Ao ensinar procedimentos que devem ser respeitados e seguidos, por exemplo, na alfabetização, não se aprende a compreensão, mas sim a decodificação de sinais. Percebe-se que atualmente o grande foco do ensino de língua portuguesa está na gramática, muitos professores dedicam a maior parte de suas aulas às normas, quando a ênfase deveria ser na leitura e na escrita. Estão ensinando muitas coisas, mas não o essencial: o domínio da linguagem.  Nas escolas não se produzem textos em que um sujeito diz sua palavra, mas simula-se o uso da modalidade escrita, para que o aluno se exercite.
Na verdade, é preciso a formação de indivíduos com capacidade de não apenas codificar sinais, mas sim formar indivíduos no sentido de compreender aquilo que lê. Ser letrado na vida e na cidadania é: escapar da literalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação aos outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, e avaliando posições e ideologias que constituem seus sentidos; significa trazer o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela. 
São notáveis as grandes transformações que a sociedade vem sofrendo em sua estrutura social, econômica e política, estabelecendo novas relações sociais, passando a exigir da escola formação de um novo aluno capaz de atuar na realidade social e transformá-la. Com essas transformações a escola é desafiada a repensar seu papel diante o meio social, formando alunos mais capazes para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e condutas que facilitem o enfrentamento de situações dinâmicas. Devendo ter como meta a preparação do aluno para a comunicação em massa, para resolver problemas práticos utilizando conhecimentos científicos, buscando sempre se aperfeiçoar.
Neste contexto a escola deve privilegiar o aprendizado da linguagem oral e escrita do aluno fazendo com que o aluno vá interagindo com textos, filmes, dramatizações e pesquisas, pois segundo Piaget (1993:58),
o conhecimento é construído a partir da interação do sujeito com o objeto. O desenvolvimento cognitivo se dá pela assimilação do conhecimento às estruturas anteriores presentes no sujeito e pela acomodação dessas estruturas, em função do que vai ser assimilado. Para Piaget, a criança se adapta de um conhecimento se agir sobre ele, pois aprende a modificar, descobrir, inventar.
Portanto, a função do professor de Língua Portuguesa é propiciar situações para que a criança construa seu sistema de significação da língua, organizando-a na mente poderá se estruturar na escrita ou na fala oral. Por isso o ensino da Língua Portuguesa deve ministrado com base no seu uso e reflexão.
Segundo a proposta de Geraldi (1984, p. 121-124.), a escola deve se tornar um espaço de produções de textos (e não de redações) e, para tal, a primeira providência a tomar é dar aos textos um destino (ainda que escolar) mais amplo que a mera correção do(a) professor(a).
Por isso, a proposta é trabalhar com os tipos (narrativo, injuntivo (regras, leis), relatos, argumentações, correspondências), num caderno de produções de textos, que, ao fim de um período, se transformará numa antologia ou em um jornal periódico de circulação escolar mais ampla.
Seguindo essa perspectiva, percebe-se que a produção textual deve estar próxima das práticas sociais. Seu ensino deve acontecer com base em gêneros textuais, sendo mais satisfatório, principalmente quando se põe o aluno, desde cedo, em contato com uma verdadeira diversidade textual, ou seja, com diferentes gêneros textuais que circulam socialmente. Assim serão formados verdadeiros cidadãos capazes de transformar a realidade social, assumindo uma postura intelectual transformadora, podendo ser produtores do seu próprio conhecimento.


 Referência Bibliográfica:
https://autoria.ggte.unicamp.br/unicamp-redefor/pages/public/main.jsf
GERALDI, J. W. (Org.) O texto na sala de aula: leitura e produção. Cascavel, PR: ASSOESTE, 1984[1981].
ROJO, R. H. R. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania.
PIAGET, Jean. A Linguagem e o Pensamento da Criança. São Paulo: Martins Fontes. 1993.

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