terça-feira, 30 de abril de 2013

“Ensino do Português: origens das práticas e necessidades dos alunos hoje”


O século XIX foi um período de mudanças na sociedade brasileira, fazendo com que a burguesia e os novos trabalhadores viessem morar nas grandes cidades, em busca de educação e uma vida mais confortável. Neste contexto a educação centrou-se na oferta de cursos preparatórios, para treinar os interessados, deixando-os aptos para fazerem o exame de ingresso nas poucas escolas e cursos superiores existentes.

Durante o séc. XIX surgiu um dos mais importantes colégios, o Imperial Colégio de Pedro II, que por muitos anos ditou o currículo do Brasil, a partir da seleção de conteúdos e obras que entravam nos Preparatórios. Como o ensino secundário se subordinava aos Exames Preparatórios, seu currículo dependia do que era exigido por esses exames. Hoje, são as Universidades que preparam os vestibulares, influenciando os currículos do ensino.

A princípio, não havia uma disciplina de "Português". Havia uma educação centrada nos estudos clássicos baseada na gramática e na retórica poética, privilegiava-se o bem falar e as estruturas da escrita a partir do latim. A língua geral (língua de base indígena), usada nas trocas conversacionais cotidianas, era a mais falada. Por isso, a língua portuguesa era ensinada na escola como segunda língua, para alfabetizar, e não como disciplina autônoma. Depois dessa alfabetização em português, estudava-se a terceira língua - o latim. Segundo Soares (2004, p. 159), "o português ainda não se constituíra em área de conhecimento em condições de gerar uma disciplina curricular".

O Português começou a ser usado como língua das instituições oficiais do Brasil depois da Reforma de Estudos de Marquês de Pombal, em meados do século XVIII. E em 1869, a Reforma Paulino de Souza introduz o exame de Português nos Preparatórios. Somente em 1871, um decreto imperial cria o cargo de "professor de português". Depois dessas reformas as disciplinas: Retórica e Poética foram extintas, exceto a Gramática, e foi criada a disciplina de História da Literatura, incorporando a leitura, recitação, composição, redação, práticas ainda presentes nas aulas atuais.      

A entrada da disciplina Língua Portuguesa tinha uma função unificação do país, não houve muita preocupação em ensiná-la, mas sim assimilação de uma regra única, e essa prática ainda existe. O aluno era convidado a escrever um texto que atendesse às regularidades gramaticais, e desenvolvê-lo de ‘modo original’. A escrita, nesse caso, configura-se como uma tarefa que visa à escolha de palavras corretas e bonitas. Desconsidera, pois, inteiramente, o processo de construção de sentidos.
Percebe-se que o ensino da língua portuguesa, como finalidade de união nacionalista, não se adéqua mais à realidade do século XXI, por isso, outras maneiras de ensino foram propostas, dentre elas, o ensino através de gêneros textuais e orais.
Segundo Marcuschi (s/d), escrever um texto é uma atividade complexa e exige do escritor a interlocução com o texto, diferente de como foi no início do ensino da língua com o colégio Pedro II, nesse, os alunos recebiam, de forma descontextualizada, os textos e deveriam produzir seus próprios textos, porém sem orientação.
Escrever na escola deve ser visto como um ensaio, uma prévia do que será requerido dos estudantes no espaço social. O ensino deve contemplar diferentes letramentos. É fundamental que o contexto de produção seja explicitado, no que se refere ao objetivo pretendido, ao espaço de circulação, ao leitor presumido, ao suporte pressuposto, ao tom que será assumido e, também, ao gênero textual na relação com o letramento que se pretende realizar. 
É importante que o professor leve o aluno a compreender e a refletir os aspectos formais que organizam os diferentes gêneros textuais, suas práticas sociais e os discursos e temas que neles circulam. O assunto que se deseja ver elaborado na produção textual, deve estar em sintonia com a prática social, com o gênero textual estudado e com a faixa etária do aluno. O aluno precisa ser orientado a usar os conhecimentos que já possui sobre o tema e buscar informações novas em: jornais, revistas, livros, internet. Além disso, refletir sobre as estratégias linguísticas que se apresentam na escrita do texto.  
Para a escola formar alunos autônomos, produtores de textos possíveis de circular também nas esferas extraescolares, é necessário incluir capacitação específica das técnicas de redação, um trabalho de escrita interlocutivo e contextualizado as práticas sociais, assim eles perceberão que a gramática, a morfologia, a semântica, a sintaxe, a estilística e a literatura afluem para uma comunicação concisa, coerente e objetiva, seja de forma oral ou escrita.
Bibliografia:

·         SOARES, Magda Becker. Português na escola - História de uma disciplina curricular. In: BAGNO, M. (Org.) Linguística da norma. SP: Edições Loyola, 2004. P. 155-177.

·         Marcuschi, Beth. Escrevendo na escola para a vida; (texto redefor) (s/d)


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