terça-feira, 30 de abril de 2013

Função autor e efeito leitor


               A capacidade leitora é uma das habilidades mais importantes e essenciais que podem ser desenvolvidas por um ser humano. Através da leitura, o aluno pode compreender e entender a sua realidade, podendo chegar a importantes conclusões sobre o mundo em que vive, além de dar suporte para o estudo de outras áreas do conhecimento.
               O aluno somente terá habilidade de leitura se realmente tiver o hábito de ler. A leitura é uma atividade na qual o "leitor" constrói o sentido do texto. Orlandi (2006.p.38) considera que o leitor não apreende meramente um sentido que está lá; o leitor atribui sentido ao texto. O leitor possui um papel fundamental na compreensão do texto, isso significa que o receptor do discurso é tão produtor do efeito de sentido de uma mensagem quanto o seu emissor.
                A leitura pode ser um processo bastante complexo e que envolve muito mais do que habilidades. Saber ler é saber o que o texto diz e o que ele não diz, mas o constitui significativamente (Orlandi, 2006, p.11).
              Nos escritos são desvendados outras culturas, hábitos, e histórias diferentes se revelam e são compreendidas, sendo o gesto de "ler" uma das coisas mais importantes que a escola tem a ensinar aos seus alunos.
              Mas sabe-se que a escola controla a apropriação de discursos, ou seja, o texto produzido como atividade escolar muitas vezes é um verdadeiro fracasso, pois está ligado exatamente às práticas educacionais que adotam a atividade de escrita como um exercício disciplinar com finalidade avaliativa. O aluno perde de vista o interlocutor, tendo como objetivo a nota e exercendo a sua função autor muitas vezes de modo descuidado.
             Para que a escola produza leitores capazes de autoria, é preciso que eles assumam a sua função autor, ou seja, eles devem elaborar o seu próprio texto, não devem apenas formar um texto com um amontoado de palavras que não são suas.
            Isso significa que a função-autor ou efeito-leitor no contexto escolar, com relação às práticas docentes, deve ser voltado à leitura interpretativa-crítica, formando leitores ideais capazes de aprofundarem-se no real sentido do texto, interpretando-o de maneira original.
            Consegue-se isso com o desenvolvimento do gosto pela leitura. O professor deve conhecer seus alunos, seu estilo de vida, culturas e ideologias, e tomar como ponto de partida as inúmeras experiências vividas pelos alunos. Essa é à base de uma preparação de aprendizagem de leitura, devendo sempre valorizar as opiniões e gostos desses alunos, além de planejar uma nova maneira de dar aulas, um novo jeito de ensinar, algo que os fascinem, levando ao prazer e o gosto pela leitura. Esse novo jeito de ensinar pode utilizar as novas tecnologias e outras formas de artes que, segundo, Orlandi (2.006),
        
A convivência com a música, a pintura, a fotografia, o cinema, com outras formas de utilização de som e com a imagem, assim como a convivência com as linguagens artificiais poderia nos apontar para uma inserção no universo simbólico que não é a que temos estabelecido na escola. Essas linguagens todas não são alternativas. Elas se articulam. E é essa articulação que deveria ser explorada no ensino de leitura, quando temos como objetivo trabalhar a capacidade de compreensão do aluno.

            Formar um leitor competente significa formar alguém que compreenda o que lê e que aprenda a ler o que não está escrito, ou seja, aquilo que está implícito, que estabeleça a intertextualidade, relacionando o texto que lê com outros textos já lidos, que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um mesmo texto.
            Esse leitor competente irá se formar através de uma prática constante de leitura. O professor deve trabalhar em torno da diversidade de textos que circulam socialmente, envolvendo todos os alunos, até mesmo aqueles que ainda não leem convencionalmente.
           O educador deve procurar promover o encurtamento entre os elementos textuais e os conhecimentos que o leitor tem do que está lendo, aproximando o leitor do texto, pois assim leitura passa a ter mais sentido e significado.
           Ao elaborar um texto, o autor-leitor de outros textos deve assumir um novo papel: a de leitor-avaliador de seu próprio produto. Nessa atitude, ele deverá imaginar a si mesmo, colocando-se na posição de leitor, observando criticamente, os efeitos produzidos por suas próprias palavras e fazendo uma revisão de seu próprio papel como autor.
          Pêcheux (2001) afirma que existe uma habilidade, que é a capacidade de imaginar o modo como o próprio discurso produz efeito no outro, precedendo o ouvinte e prevendo onde este o espera. O mecanismo de antecipação implica que o enunciador experimente, mesmo que parcialmente, o lugar de ouvinte, a partir do seu próprio lugar de enunciador, isso acontece na reescrita.
         A releitura provoca um distanciamento da função-autor e conduz o aluno a uma avaliação da posição leitor, assim ele promove um diálogo com o próprio texto, joga com os papéis de leitor e de autor e faz alterações.
        Quando o aluno assume a função-autor-leitor de seu próprio texto, procede a uma revisão da autoria realizada anteriormente, reinterpretando seus dizeres e efetuando novas escolhas significativas.
        O insucesso atribuído ao aluno-autor nas produções textuais escolares nada mais é do que o poder uma distorção das formações imaginárias nos gestos da função-autor. Os alunos devem ser incentivados a escrever, ler e reler seu texto e depois reescrevê-lo. O trabalho de escrita e reescrita permite uma vivência da própria individualidade, trabalhando dessa forma pode-se chegar ao sucesso de redações bem elaboradas.  

Referência Bibliográfica:
http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/aplic/index.php?cod_curso=544
•        http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_5943/artigo_sobre_a_importancia_das_habilidades_para_a_compreensao_leitora
http://www.revistas.uea.edu.br/old/abore/artigos/artigos_3/Suely%20Barros%20Bernardino%20da%20Silva.pdf
http://teses.ufrj.br/EEAN_D/AntonioMarcosTosoliGomes.pdf
http://silvana-carvalho.blogspot.com.br/2008/10/importncia-da-leitura-e-escrita-nas.html
http://www.discurso.ufrgs.br/anaisdosead/3SEAD/Simposios/ElianeMarquezDaFonsecaFernandes.pdf
PECHEUX, M. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Unicamp, 1997. 317 p.
______. Análise Automática do Discurso. In: GADET, F; HAK, T. (orgs.) Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. Cap. 2, p. 61-161.
PÊCHEUX, M. et al. Apresentação da Análise Automática do Discurso. In: GADET, F; HAK, T. (orgs.) Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. Cap. 6, p. 253-282.
PECHEUX, M.; FUCHS, C. A Propósito da Análise Automática do Discurso: Atualização e perspectivas. In: GADET, F; HAK, T. (orgs.) Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. Cap. 5, p. 163-252.
ORLANDI, Eni. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
ORLANDI, Eni. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2006.

Nenhum comentário:

Postar um comentário